Viva!
Após alguns meses de ausência forçada devida a imprevistos, parece que no final de 2009 os planetas alinharam-se o suficiente para eu retornar aos passeios fora de estrada.
Após cerca de 1 ano a coleccionar peças, a vasculhar a net e a remoer a cabeça finalmente consegui meter mãos à obra e dar inicio a algumas transformações na minha madura DR650SE de 97.
O projecto inclui intervenções nos seguintes elementos:
Escape
Motor
Suspensões
Iluminação
Protecção
Ergonomia
Autonomia
Aqui está ela antes:
Praticamente “bone-stock”. Com o adicional de qualquer coisa como 130.000 kms de abusos em cima feitos por mim e donos anteriores.
A primeira intervenção foi escape.
O escape de origem é óptimo, se se pretender fundear um petroleiro ao largo do porto de abrigo :-\ . Pesa cerca de 7 kilos (!) uma verdadeira ancora, muito restritivo, o som é tudo menos apelativo e com o passar do tempo tem tendência para enferrujar. Apesar de a Suzuki afirmar que é em aço inox.
Existem uma série de alternativas para a DR650SE, LeoVince, FMF, etc… todas a troco de umas centenas de €uros. Uma outra alternativa, bastante menos dispendiosa é utilizar um escape original de Suzuki GSXR posterior a 2000. Este pormenor é importante, pois só estes possuem uma falange de 4 parafusos. Isto de andar por montes e vales produz muita vibração e 4 pontos de fixação fazem uma grande diferença.
Claro que a Suzuki pensou nisto e como tal fez o escape da DR650SE com uma forma única que inclui parte do colector, quase que estabelecendo um record em termos de comprimento de uma única peça de escape numa mota dual-sport. De forma a contornar esse problema, é necessário fazer um tubo de ligação em aço inox de preferência, entre o colector do motor e a panela propriamente dita.
Nada de muito cientifico:
O resultado é bastante interessante, pois o novo escape produz um som bastante mais rouco e profundo sem se tornar irritante nem afugentar a vida selvagem num raio de 5 kms. Com a vantagem de no total pesar “apenas” 3.5 Kg (metade!)
Vantagem extra, o próprio escape diz Suzuki e quando montado parece uma peça de origem. :azn:
Suspensão dianteira
Outro pormenor fraco da DR650SE são as suspensões, quer dianteira, quer traseira, são claramente orientadas para uma utilização mista a tender para o citadino e sem grandes ciências. Resultado, são muito moles e em algumas situações mais exigentes podem não responder da forma desejável.
Solução? Trocar as molas
A Wilbers ou Wirth, nunca sei o nome, uma delas é parente da Tecnoflex, desenvolveu molas progressivas para a DR650SE. Uma solução simples, basta tirar apenas a tampa superior de cada braço da suspensão e tirar as molas de origem e colocar as progressivas. O resultado é aceitável, o que não é difícil dada reduzida performance do material original.
A solução ideal? White Power!
Parece que os amigos austríacos da marca laranja que por agora não vou dizer o nome, tiveram um rasgo de genialidade quando resolveram equipar as suas máquinas com material WP. Coincidência ou não, fizeram-no de forma a que os apoios dos rolamentos da coluna de direcção dessa marca laranja austríaca fossem iguais aos apoios de rolamentos das DR650SE de 96 a 2009!
Ou seja, é literalmente tirar a suspensão Showa da DR que só está lá para o Show Off e montar uma WP43 ou 48.
Deve-se evitar a WP40 pois já é bastante antiga e as mesas de direcção tem um espaçamento de 180 mm enquanto que as WP43 tem 190 mm de espaçamento, que faz toda a diferença ao (tentar) montar a roda da frente!
No meu caso, optei por umas WP43. Arranjou-se um negócio que incluía, bainhas, roda completa com pneu (e em bom estado!), disco e bomba de travão.
Ficava a faltar as mesas de direcção, volante e suporte que liga à mesa de direcção. Rapidamente se resolveu essa questão.
Claro que isto de achados por vezes prega-nos algumas partidas…
As bainhas precisavam de trocar os retentores, e as mesas de direcção eram laranja………
Primeiro, tratar das bainhas.
Ups...
Improvisar
Problemas:
Mau sinal, o hidráulico estava cheio de resíduos que bloqueavam todo o funcionamento
Ferramenta caseira para montar retentores:
Segundo, tratar da cor da mesa de direcção.
Antes:
O que acontece ao aplicar decapante de tinta de avião:
Resultado:
Demora menos do que se imagina e manda um cheiro que deixa qualquer um sériamente pedrado.
Terceiro, montar tudo.
Antes:
Aproveitei e elevei o volante em 50 mms.
Foi nesta altura que me apercebi de um pormenor pertinente Dada a WP43 ser uma suspensão invertida, significa que é mais larga na parte superior ao contrário da Showa original da DR650SE. Isto significa que os apoios originais da DR que sustentam o farol e mica não poderiam ser utilizados.
Subitamente fiquei às escuras sem luzes na mota…
Como estava em ganas de experimentar a nova suspensão, tive de desenrascar uma solução verdadeiramente manhosa
Bah… mas dava o mínimo de luz para me deslocar.
O Motor
Ao fim de 12 anos de utilização, biliões de ciclos, milhares de litros de gasolina, 3 ou 4 proprietários abusadores e cerca de 130.000 kms, o motor começou a dar algumas dores de cabeça. Gastar óleo, vibração anormal, mudanças a saltar quando em esforço, etc… nada de positivo.
Um dos pontos fracos da DR650SE é o carreto de 3ª velocidade. Ao fim de bastante tempo de (ab)uso começa a ficar desgastado e pode partir. E quando parte… é uma party de arromba que vai tudo à frente e no final nada se aproveita. Uma party portanto!
Ora este motor já andava a mostrar sinais disso e antes que desse o peido mor, pior ainda comigo em cima, resolvi esventrá-lo. Ou seja, desmontar tudo, substituir o dito carreto, rodar válvulas, trocar segmentos, rolamentos, corrente de distribuição, etc… etc…
Este foi o passo que realmente testou a minha capacidade de resistência mental e paciência. Após elaborar uma listagem de todas as peças a serem substituídas e ter fornecido os dados necessários à Suzuki em Portugal, demorou nada mais nada menos que 4 meses até ter as peças todas! 4 MESES! Quem é que tinha reclamado que Portugal estava no cú da Europa por causa de uns atrasos de 3 ou 4 semanas com umas peças BMW!?
Desculpa: “Pois, sabe é que esse modelo já não se produz.” Como é que é!? Este modelo está á venda nos EUA desde 1996 até 2009 e já foi anunciado que continuaria para 2010, pois a procura não diminui.
Depois de obter as peças necessárias, concluí que se precisar de alguma peça, mais vale pedir a um representante suzuki nos EUA ou ao Stefan Hessler na Alemanha.
Vivendo e aprendendo.
Com isto tudo tirei poucas fotos e metade delas não faço ideia onde estão.
Estado de um dos carretos da caixa de velocidades:
Panorâmica
Após montar tudo novamente, o motor pegou ao fim de 2 ou 3 tentativas.
Na estrada notou-se uma clara melhoria no comportamento e resposta, bastante mais reactivo e com mais força em baixas.
Seguiram-se 1000 kms de rodagem. Sofrimento....
No fim destes 1000 foi altura de se trocar o óleo, filtro e re-apertar tudo novamente… pois as mono cilindricas tem um estranho hábito de vibrar e desapertar tudo o que é parafusos… e já me ia esquecendo: Montar uma arvore de cames… diferente!
Mas que na foto n se nota nada… afinal, as diferenças físicas são milimétricas…
Ao experimentar… wow! :azn:
Iluminação
Ao fim desses 1000 kms e mais alguns, era mais que óbvio o problema da iluminação… ou falta dela. ::)
Lembrava-me vagamente que algures no tempo tinha comprado (nem sei porquê, provavelmente porque era barata) uma óptica redonda de estilo retro de mota de estrada naked. Nem mais! No fundo de uma caixa lá estava, uma óptica impecável de uma Suzuki SV1000N, juntamente com um vidro da Givi, que imediatamente reparei que também iria dar muito jeito, especialmente em tiradas mais longas.
Claro que ainda havia que contornar a questão dos apoios necessários.
Um pouco de bricolage básica:
E o resultado.
Não é exactamente aquilo que se pretende mas por agora vai dar.
Suspensão traseira
Já tinha mencionado, as suspensões desta mota são uma treta?? O amortecedor traseiro, mesmo com a pré carga no máximo não dá conta do recado. Mole mole… Pouca capacidade de ajuste. Entre pagar para reparar este amortecedor ou arranjar outro, fui pela segunda opção.
Novamente:White Power!
Uma característica do amortecedor original é que é… grande! 45 cms de comprimento entre eixos. Este pormenor limita bastante as escolhas, mas um conterrâneo espanhol conseguiu aplicar um WP com 41cms, fazendo umas peças no final para compensar a distância em falta. Depois de umas trocas de emails, o Angel (espanhol) enviou-me umas fotos ilustrativas da peça. Interessante, simples e fácil de executar.
Uma outra solução era utilizar uns Ohlins de LC2, mas parece que na Europa, são feitos de um material valioso, platina, ouro, unobtainium ou qualquer coisa ainda mais cara, pois quando aparecem, é ver o preço ir por aí acima sem limites…
É então um dia que dou de caras com um anuncio no ebay de um amortecedor WP, e o vendedor indicava uma distância entre eixos de 46 cms!!!!! Depois de verificar as fotos, tive quase a certeza que aquilo dava na DR650 e agarrei-o logo.
Quando chegou fui logo comparar e hey… hey… é quase quase igual, apenas um parafuso mais longo e umas anilhas!
Agora a parte cómica é que nem eu nem o vendedor sabemos de que mota era aquele amortecedor. Ele comprou a pensar que dava na LC4 (que utiliza um WP de 41 cms), quando recebeu viu que se montasse aquele amortecedor a mota ficava com meio metro a mais de altura!
Original vs WP
Pequenos ajustes necessários
O simples facto de ter mais 10mm de comprimento entre eixos, elevou logo a traseira em cera de 40 mm, já para nem falar do comportamento…
Outro aspecto importante, ou que foi ignorado pela suzuki, sabe-se lá porquê, é a protecção do cárter contra pedradas. Novamente parece que construíram uma mota para ir ao café da esquina.
Arranjei uma protecção em alumínio de 4 mms que serve para evitar males maiores.
Mais uma bricolage
Só depois de montar e dar umas voltas em terreno com pedras e cascalho é que comecei a ouvir o som das pedradas na protecção. Antes era directamente no cárter… Só de imaginar uma pedra partir o cárter até dá calafrios… ao ver a conta que a Suzuki apresenta para um cárter novo!
Encontrei também algo que queria experimentar: Um colector de escape diferente do de origem.
Desmontar
Comparar
4,5 mms a mais de diametro!
Antes:
Depois
Ficou um bocadinho mais ruidosa… e mais solta em medias/altas. Talvez tenha perdido em baixas devido à menor pressão gerada pelo maior diâmetro.
Autonomia
Para aumentar a autonomia, a escolha de eleição foi o deposito Acerbis de 28~30 Litros que também é conhecido como auto-tanque, cisterna, etc... e equipa as austríacas alaranjadas. Juntamente com o deposito foi necessário arranjar o respectivo banco.
Metade do trabalho já estava feito. Novamente os senhores da marca austríaca alaranjada, fizeram o devido trabalho de casa com os apoios do deposito quase na mesma posição que os da DR650SE.
Foi necessário apenas aplicar uns revestimentos de borracha de forma a melhor segurar a peça. (altamente cientifico)
Encaixes e espaço disponível:
Criar um apoio central.
Criar os suportes laterais.
Dado o tamanho do novo depósito, a saída de gasolina fica consideravelmente abaixo do carburador, pelo que foi necessária uma bomba de gasolina. A eleita foi uma Mikuni de uma Suzuki (novamente) SV650 com um débito de 14 Litros/Hora, idêntica à das tais austríacas alaranjadas. 1 euro no ebay +8 de envio.
Com o novo banco foi necessário também efectuar algumas alterações de encaixes e recolocar o CDI. Tarefas relativamente simples com o torno, rebarbadora, berbequim, lixadeira, etc…
O resultado actual:
Antes…
e depois:
Pormenores importantes de se referir: Esta DR650 transpira por todos os poros material dessa marca austríaca alaranjada. Aqui não há discussão. Pretende-se uma máquina com equipamento com a qualidade que essa tal marca austríaca alaranjada utiliza nas suas criações, mas com um motor fiável.
Coincidência ou não, a DR650 ressentiu-se… assim que lhe dei ao start não pegou nem por nada. Parecia que o motor rodava com demasiada facilidade. Afinal foi o descompressor automático que encravou. Contornada essa questão pegou logo, resignada, mas pegou. Mas não se deu por vencida. Cada vez que tocava no travão, em vez de se acender a luz de stop, acendia-se as luzes dos mínimos e do fundo do painel de instrumentos. Stop nada. Depois de verificar a cablagem, desmontar e limpar tudo voltou a funcionar.
Os meus vizinhos odeiam-me e cada vez que me ouvem a chegar à garagem e ficar lá mais que 5 minutos sem sair, signfica que vou utilizar a rebarbadora de corte ou berbequim.
Agora seguem-se testes de estrada.... mato!
Continua…